Fantasia de Índio
Direção: Manuela Andrade
Duração: 18′
2018
Recife
Desde criança, ouvia minha mãe falar da minha ascendência indígena. Há duas décadas atrás meu tio materno foi ao encontro dos xukurus à procura de rastros desse passado, resolvi dar continuidade a essa busca.
Identidade, cosmopolítica e sagrado indígena. A partir de um apelo sensorial, utilizando-se de fotos still e animações “color block” o filme é uma provocação, uma tentativa de reconstrução de um imaginário acerca de um universo tão fetichizado na mídia e comumente “segmentado” no cinema, chamado de filme etnográfico. O filme mergulha nesse vão de distanciamento construído que invisibiliza os povos originários brasileiros e fricciona esse estado de “cegueira”. A diretora pontuando um lugar de fala não –indígena/urbano esmiúça sua busca pelos rastros de sua ancestralidade. Ao mesmo tempo que comenta quão anacrônica é a pesquisa burocratizada pela ascendência num país sem memória, o filme coloca a conexão espiritual como grande potência de resistência deste povo, além de combustível para o fortalecimento das lutas políticas e práticas tradicionais de uso da terra (eco-sustentáveis). As animações de Juliana Lapa e Paulo Leonardo trazem o onírico para resignificar uma parte da história brasileira usurpada pelo colonialismo. Se de um lado é posto todo o encantamento do pensamento Xukuru, Fantasia de Índio não procura trazer um tom apaziguante. A própria ideia de identidade brasileira é questionada, visto que apesar dos direitos conquistados por alguns povos, a maioria ainda vive em constante estado de guerra com fazendeiros e com o próprio Estado.